O Almanaque aprecia a arte efémera. Por isso aqui encerra, agradecendo, a II série
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22:44
as couves aguardam em silêncio a
próxima transmigração em caldo verde.
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18:03
resquício de medo numa cidade distante há uma geração
ponto a debater-se nas águas fundas da memória sem saber nadar
ilusão de corpo a mergulhar em sonhos para o resgatar
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Pedro Diniz de Sousa
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14:56
No jardim do paraíso a calma tem
o vago brilho azul da madrepérola,
o vento tem reflexos de cascatas
densas, verdes como as águas altas
e tem aromas de baunilha e flores
de mel. O silêncio é um pássaro,
um coração de um pássaro pulsando,
e tem recantos do ainda e agora,
cantando, como tu, na tarde calma,
por uma pauta de sol. No jardim
do paraíso a noite é de veludo
e tem a graça obscura das fogeiras
antigas ardendo devagar. E tem olhos
ainda mais antigos, ou lagos de avelã.
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22:44
Abro o mapa de Lisboa e o que vejo
é um pequeno e aéreo coração radial.
Um leque sobre o tejo, é o que vejo
semi-aberto ao abrigo do oceano,
vendo passar, deitado, ideias de
navios, no vento brando de quem teve
mais para ver. Aproximando, é uma manta
de telhados, com praças e tapetes
de árvores entre, e ruas com pássaros
azuis. À margem do mapa, na varanda
os meus gerânios florescem outra vez.
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00:09
A Primavera pode chegar nas páginas
de um livro – entre sons e rimas, cantando
no emaranhado das folhas, que vão
a pouco e pouco cobrindo o claro manto
da neve que se foi. Pode chegar, é certo,
na capa colorida de um livro de poemas
– mas convém, de qualquer forma, olhar
de vez em quando para a beira da janela
(e ver, possivelmente, cair o céu da tarde
em voo transversal sobre os beirais).
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19:39
E de súbito, ouve-se tocar um tambor.
À beira do regato, uma nereide extraviada
mergulha no orvalho e saúda a manhã.
País de colinas mansas, quem te esquecerá?
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22:44
Este é um poema em forma de trapézio:
os seus lados paralelos desenham uma
geometria de laranjais, obliquamente
atravessada pelos passos de quem passa,
duas linhas de terra, abrindo um chão de ervas
altas e molhadas. No interior, tangente (ou quase)
à linha mais à esquerda, um círculo assinala
a dimensão da queda, num poço com escada
em caracol. Ploc, faz uma pedra no espelho
da água onde a ninfa vem nadar.
A área do trapézio é calculada pelo tempo
que atravessa o laranjal: varia com a chuva,
ou com a memória isósceles de alguns dias
escalenos, na matemática subtil dos ângulos
de alguns versos, com vista para laranjas e pardais.
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17:06
Este é um poema a régua e compasso:
desenha a esquadria de mundos coloridos,
berlindes, caricas, balões a voar.
No céu da infância as nuvens são brinquedos.
A esquadria está repleta de números
espreitando atrás das grades, em fuga acelerada
para o jardim. Bandas de números num coreto
vermelho e um chapéu de chuva azul.
No jardim da infância a chuva é um brinquedo.
No interior das linhas, as letras equilibram-se
num trapézio. Num baloiço de cores. Seguindo
um carreiro de formigas, no balanço.
Nas linhas da infância as formigas são brinquedos.
Devagar aparece um caracol.
O sol da infância é um brinquedo alto.
Aberto e acessível, como um girassol.
Os telhados da infância são brinquedos.
Na esquadria, as casas desabam lentamente,
e sem cair, adormecem a cantar.
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23:36
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17:34
Encostada à amurada da ponte, de costas
para o rio, sorri para a fotografia. Há pouco
a dizer de um enquadramento assim, que
se entende querer servir apenas de horizonte
de viagem, umas férias, talvez, nada de
particularmente artístico ou trabalhado.
E no entanto, com estranha pertinácia,
o sol põe-se todos os dias na fotografia.
Quer dizer, no céu (matinal?) as cores claras
e fixas vão acompanhando as horas, numa
metamorfose subtil que gradualmente pinta
de rosado o canto superior esquerdo da
fotografia. Na combustão da tarde, o próprio rio
ganha matizes insuspeitos; e no fim do dia
a água é já claramente um espelho opaco
em nítido movimento rumo à linha de fuga,
à direita, na fotografia. Só a personagem
permanece imóvel, de costas na amurada,
muito embora uma sombra se insinue ténue,
esbatendo as linhas do casaco azul.
(Em Berlim, Setembro de 2005, sobre o rio Spree)
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23:45
Raisa: o trabalho é por vezes uma floresta
de pinheiros altos. No silêncio, o ar vibra
com o cheiro da resina. Por vezes, Raisa,
numa sombra mansa, vendo a poeira
assentar, exacta, no caminho.
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22:14
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23:01
Da janela, a muralha fernandina
vai-se alargando em círculos de cor:
o Barreiro, Alcochete, Pinhal Novo
o próprio Tejo incluído. Em redor
passam memórias de faluas,
memórias de palavras, os batéis
na circular interna de Odivelas
extensíveis à paragem do Cacém.
Espraia-se no ar, como um aroma
de alecrim e rosas, a noção
de sermos muito mais que viajantes
de um dia sem história. Ou talvez
haja uma história secreta em cada dia
que apenas, por acaso, não se vê.
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23:28
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23:18
Vem ouvir cantar a cotovia nos ramos
do pinheiro.
Sobre fundo azul, pousa na página
um pequeno pássaro de papel.
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23:50
Se por acaso um dia conversarmos
sob os plátanos, vendo as crianças
correr na terra batida da infância,
o que te direi terá a cor vermelha
da bicicleta e a ordem um pouco
oblíqua do carreiro das formigas.
Nada disto lá estará. Só a memória
de uma sombra antiga adensará
a sombra que te acolhe sob esses
mesmos plátanos do mesmo exacto
largo. E a porta, que era verde,
abrir-se-á de novo, agora como dantes,
porque o que muda é só o sinal
e a senha que nos cabe escolher.
A palavra de passagem é agora a minha.
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23:40
Leve é a idade das abelhas. Mais
leve ainda é a corrida dos mosquitos
ou tranquilo deslizar dos caracóis.
Os gafanhotos levemente ganham asas
ou levemente pulam. Como as rãs.
A idade milenar dos escaravelhos
pesa tanto quanto a brisa matinal.
E mesmo as pulgas, os pulgões e as
borboletas se elevam leves nas
lavouras, nas levadas, e aereamente
entoam a canção do criador.
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23:09
Balões
janelas caiadas
varandas
balcões
e ao fundo, até perder de vista,
as copas rendilhadas das amendoeiras.
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23:04