terça-feira, 19 de junho de 2007

Quarenta e tal anos

resquício de medo numa cidade distante há uma geração

ponto a debater-se nas águas fundas da memória sem saber nadar

ilusão de corpo a mergulhar em sonhos para o resgatar

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Marcha egípcia



Vi cantar o rouxinol
num ramo do meio-dia,
brincava um raio de sol
no som e depois fugia.

Meu amor, quando voltares,
numa gruta assaz sombria,
acharás, se os procurares,
o raio e a melodia.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Manual para a fabricação de foguetes



Estrelinhas de pólvora a brilhar.

É antes da festa que se fabricam
os foguetes.

Nos canaviais, eh, nos canaviais.

Nas margens dos rios
que correm para o mar.
(dos pequenos ribeiros,
ou mesmo de lágrimas,
das pequenas marés).

É então que, cuidadosamente, se coloca
o explosivo

Nos dias banais, plim, nos dias banais.

Nas margens dos dias banais,
aquelas onde germinam as
pequenas histórias, ocultas
na folhagem húmida.

E se mistura o arco-íris de
sódio, potássio, alumínio e ferro.

Amarelo, azul, branco e dourado, oh!

Vermelho é o cálcio
o estrôncio também
o verde é o bário
(aqui convém ler a enciclopédia).

Porque a festa há-de chegar,
de olhos pasmos na alquimia da noite.

sábado, 2 de junho de 2007

Nuvens sobre o atlas: vai chover



Dir-se-ia uma voz pregando no
deserto. Mas era apenas um caçador
de mariposas (vulgo, borboletas),
assobiando na brisa das histórias
por inventar: - Brisa, brasa, na branca
ideia de calor há uma montanha
e muito lá no longe azul.

Falou. E o eco disparava
em busca da nascente, parando
em cada pedra, um pouco circulando
na ideia um pouco aérea de por ali
pousar, ou de ficar olhando
o verde mar das vinhas. Devagar.

- Tal qual uma cidade onde possam
ir ter as rotas dos cometas mais
banais, a cauda nas esquinas
dos cafés. E o eco disparava sobre
as máquinas solares, batendo nas
soleiras, seguindo a trabalhar numa
amável manhã ou por aí. Em bancos
e bandos de pardais. A acordar.

Era então a estação dos gafanhotos
(no deserto, quer dizer) que lá iam
seguindo atentamente a história
interminável dos pardais.
Não eram mariposas? Se calhar.

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