quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Itinerários urbanos em catorze versos

Da janela, a muralha fernandina
vai-se alargando em círculos de cor:
o Barreiro, Alcochete, Pinhal Novo
o próprio Tejo incluído. Em redor

passam memórias de faluas,
memórias de palavras, os batéis
na circular interna de Odivelas
extensíveis à paragem do Cacém.

Espraia-se no ar, como um aroma
de alecrim e rosas, a noção
de sermos muito mais que viajantes

de um dia sem história. Ou talvez
haja uma história secreta em cada dia
que apenas, por acaso, não se vê.

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Mosaico


No centro do labirinto, vejo passar
o satélite. Procura, como eu, as coordenadas
do lugar. Discretamente saúdo o viajante
circular da noite. Também eu um dia
encontrarei o caminho ente as linhas
geométricas que me rodeiam. Nesse dia
subirei ao vértice do triângulo.

domingo, 21 de janeiro de 2007

Arte poética



Vem ouvir cantar a cotovia nos ramos
do pinheiro.
Sobre fundo azul, pousa na página
um pequeno pássaro de papel.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Password

Se por acaso um dia conversarmos
sob os plátanos, vendo as crianças
correr na terra batida da infância,
o que te direi terá a cor vermelha
da bicicleta e a ordem um pouco
oblíqua do carreiro das formigas.
Nada disto lá estará. Só a memória
de uma sombra antiga adensará
a sombra que te acolhe sob esses
mesmos plátanos do mesmo exacto
largo. E a porta, que era verde,
abrir-se-á de novo, agora como dantes,
porque o que muda é só o sinal
e a senha que nos cabe escolher.
A palavra de passagem é agora a minha.

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

As sete pragas do egipto

Leve é a idade das abelhas. Mais
leve ainda é a corrida dos mosquitos
ou tranquilo deslizar dos caracóis.
Os gafanhotos levemente ganham asas
ou levemente pulam. Como as rãs.
A idade milenar dos escaravelhos
pesa tanto quanto a brisa matinal.
E mesmo as pulgas, os pulgões e as
borboletas se elevam leves nas
lavouras, nas levadas, e aereamente
entoam a canção do criador.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Perspectiva

Balões
janelas caiadas
varandas
balcões
e ao fundo, até perder de vista,
as copas rendilhadas das amendoeiras.

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