Caderno
Este é um poema a régua e compasso:
desenha a esquadria de mundos coloridos,
berlindes, caricas, balões a voar.
No céu da infância as nuvens são brinquedos.
A esquadria está repleta de números
espreitando atrás das grades, em fuga acelerada
para o jardim. Bandas de números num coreto
vermelho e um chapéu de chuva azul.
No jardim da infância a chuva é um brinquedo.
No interior das linhas, as letras equilibram-se
num trapézio. Num baloiço de cores. Seguindo
um carreiro de formigas, no balanço.
Nas linhas da infância as formigas são brinquedos.
Devagar aparece um caracol.
O sol da infância é um brinquedo alto.
Aberto e acessível, como um girassol.
Os telhados da infância são brinquedos.
Na esquadria, as casas desabam lentamente,
e sem cair, adormecem a cantar.